
Moradores usam redes sociais para recontar história de João Pessoa: 'no meu amor pela cidade, tudo vira conteúdo'
Praça João Pessoa
Reprodução/Arquivo/Olenildo Nascimento/Jornal A União
A história de João Pessoa tem ganhado novas formas de ser contada com a ajuda das redes sociais. Páginas dedicadas à memória da cidade compartilham imagens antigas, relatos e lembranças do cotidiano. A capital paraibana completa 440 anos nesta terça-feira (5).
Com postagens frequentes e nostálgicas, esses perfis têm despertado o interesse de quem nunca havia se conectado com o passado da capital paraibana e também de quem sente falta de registros sobre um tempo que pouco se fala.
Perfil com fotos antigas de João Pessoa desperta interersse pela história da cidade
Um dos criadores desse tipo de conteúdo é Mário Filho, corretor de imóveis de 59 anos. Ele explica que criou a página ‘João Pessoa Antigamente’ por curiosidade e pelo desejo de entender como a cidade se transformou ao longo do tempo. Hoje, Mário acumula quase 120 mil seguidores em seu perfil, compartilhando registros de “antes e depois” da cidade.
“Tenho um enorme fascínio pelos lugares que ando, inclusive para saber como esses lugares foi um dia. Sou apenas um curioso da passagem do tempo” afirma.
Mário dedica cerca de seis horas por semana à produção dos conteúdos, que são programados para publicação automática. As imagens e histórias vêm de arquivos públicos, pessoais e da colaboração dos próprios seguidores. “Uma garimpagem que proporciona conhecimento e alegria”, resume.
Para ele, a motivação principal é o gosto pessoal e a vontade de despertar nas pessoas o interesse pela história dos locais por onde passam.
Morador grava pontos de João Pessoa e convida público a imaginar histórias
Outro perfil, ‘Café etc e tal’, é administrado por Alex Oliveira, morador do Centro Histórico da capital que define a página como um diário das próprias memórias.
Em muitos de seus conteúdos, ele grava pontos antigos da cidade e convida os seguidores a imaginarem histórias para aqueles cenários. Um desses vídeos viralizou e ultrapassou 260 mil visualizações.
Ele conta que nasceu no bairro do Varadouro, próximo às antigas fábricas da cidade, e que o conteúdo surge de um olhar afetivo sobre lugares que marcaram sua infância.
“A página, na verdade, são minhas reminiscências de infância. Eu nasci no Varadouro, no miolo da nossa história. Eu acho que tento resgatá-los quando insisto em não deixar a nossa história ser esquecida. No meu amor pela cidade, tudo vira conteúdo”, explica.
Ambos afirmam que o material compartilhado vem de livros, artigos, relatos orais e contribuições de seguidores. E Alex diz que se emociona com o retorno que recebe.
“Eu me emociono muito, me emociono mesmo, quando alguém escreve pra mim que eu estou mudando o olhar das pessoas com relação ao Centro e sua história. Pessoas que estão frequentando e consumindo o Centro Histórico. Elas me mandam fotos nos museus e igrejas. Para mim, não tem preço”, relata.
Redes sociais ajudam a preservar a memória, diz historiador
Historiador analisa como perfis nas redes contruibem para preservação da memória
Para o historiador Luiz Neto, esse tipo de trabalho é importante quando feito com responsabilidade. Ele avalia que os perfis ajudam a divulgar a identidade, as raízes e as culturas locais.
“Isso ajuda que a gente reproduza, para cada vez mais um público amplo, um pouco da nossa identidade, das nossas culturas e principalmente das nossas raízes”, explica o historiador.
Luiz destaca que a história não se resume a documentos oficiais. “História também está nas pessoas e principalmente nelas. Os relatos, as comunidades, as identidades locais dos bairros permitem que a gente conheça cada vez melhor um pouco quem nós somos e onde nós estamos”, explica.
Apesar da importância desses registros, o historiador alerta que é preciso cuidado na forma como os conteúdos são produzidos. Ele explica que o acompanhamento de profissionais da área é essencial para evitar erros comuns, como o anacronismo, quando se interpreta o passado com os valores do presente, ou a propagação de informações falsas.
“Os historiadores são preparados para identificar o que são fake news, o que são narrativas verdadeiras, ou simplesmente conseguir compreendê-las de maneira mais ampla”, afirma.
Para ele, quando bem utilizados, os perfis nas redes sociais funcionam como ferramentas eficazes para que mais pessoas tenham acesso à memória da cidade e conheçam melhor sua própria história.
*Sob supervisão de Dani Fechine e Diogo Almeida
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